sábado, 12 de janeiro de 2008

Efemeridade Cotidiana

Quarta-feira e aquele sol de rachar só fazia aumentar a fila no Juca.
Hummm... nada como um bom caldo de cana pra refrescar... E quanta cana tem aí... Deve vir do nordeste, lá tem tanta cana... O pior é que são crianças que trabalham no canavial. Nossa... Enquanto aqui tem um monte de adulto que nem mesmo trabalha, parasitando na cana que eles cortam, eles estão trabalhando, de sol a sol. Não devem ir à escola (pelo menos a maioria) e portanto não sabem ler, escrever, talvez nem saibam falar; essa gente já fala tudo errado, imagina sem estudar. Eles não brincam, não se divertem, só trabalham. E as famílias, então? São grandes, enormes, justamente para ter mais gente trabalhando, levando o pão pra casa; o sustento pra eles é muito difícil.
Como esta vida é injusta! Tantos têm tudo e uns não têm nada. É este país que não vai pra frente, os políticos só ajudam a piorar. E esse Mensalão agora... Só se sabe falar em CPI, Roberto Jefferson, Marcos Valério...
Não tá certo, não mesmo! E quem precisa de ajuda? As pessoas fingem que se importam, umas talvez até se preocupem um pouco, mas logo esquecem. É um mundo distante. Mas é absurdo! Isso tem que mudar! Onde já se viu, são nossas crianças, nosso futuro, futuro da nossa pátria! São vidas sendo desperdiçadas, talentos perdidos. Além disso, é crime e todo mundo sabe, mas ninguém prende ninguém, tapam o sol com a peneira.
- Um, por favor.
Por que será que eles não se revoltam? Será que não tem ninguém que possa ajudar? E os pais dessas crianças, como podem permitir esse disparate? E o povo reclama que essa situação não muda. Claro que não muda, como vai mudar se ninguém faz nada para que isso aconteça? Se somos um país subdesenvolvido é porque nem todo mundo faz a sua parte, não reconhecem os direitos de um cidadão, só vêem o próprio umbigo. O que mais me incomoda é a hipocrisia em que o brasileiro vive. Ouve hipocrisia, fala hipocrisia, sente hipocrisia, respira hipocrisia. Isso não é vida, meu Deus! Imagino meu filho no lugar dessas pobres criaturas. Se as pessoas imaginassem isso, sentiriam o horror que estou sentindo e aí então, quem sabe, seria um passo para o fim desses abusos.
- Aqui está.
Será que o governo não pensou em nenhuma proposta pra acabar com essa escravidão? Não é possível que entre tantas pessoas ninguém se importe.
- Doutor! Como vai?
- Tô indo pro escritório, vamos? Essa garapa tava uma delícia, preciso vir mais vezes.

(situe-se: algum mês de 2005)

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